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domingo, 10 de setembro de 2023

Pontapé Inicial

A ideia não foi minha, então não posso me apropriar dela. De qualquer forma, foi uma ótima ideia, devidamente compartilhada, acolhida e, neste momento, colocada em ação para fins de pontapé inicial.

Compartilhar momentos especiais é um privilégio que poucos se proporcionam, particularmente, em determinadas fases da vida. Mas em outras fases, quando as certezas acabam, quando ter paz é melhor do que ter razão, quando PRÉocupações te ocupam bem menos do que as trivialidades do dia a dia,... a gente percebe que precisamos nos dedicar àquelas coisas que o Tempo (sempre ele!), sabiamente, guarda bem guardadinho para usufruirmos no momento certo. Só que em forma de lembranças, com aqueles que (se) importam.

Este texto é sobre isso.

Bastonetes de cana-de-açúcar, verões na Lagoa dos Patos-Magistério-Quintão, as festas de Natal, o dia seguinte às festas de Natal, pulos na cama com acolchoado de penas, o cheiro da carne assada no forno, os poeminhas temáticos, a salada de repolho cortado bem fininho e os bolos de aniversário cobertos com glacê e coco ralado grosso, a melancia cortada com método, as calças e os vestidos feitos sob encomenda, os bolinhos de chuva dos cafés da tarde, o vestido de noiva,...

No começo era a casa da vó. Claro, lá era também a casa do vô, das tias, do encontro com os primos e onde coisas que depois ficariam para sempre em nossas vidas em forma de cheiros, imagens, sentimentos inenarráveis nos nossos ouvidos, retinas, pele eram cultivadas. Mas era a casa da vó porque a nossa matriarca era assim.

A herança da força da mulher forte se alastrou pelas gerações e capturou almas femininas através dos homens da família. Nenhum dos nossos meninos-homens se contentou com menos do que tiveram nas suas origens. Nenhum! E todas nós (todas!) temos os nossos próprios motivos para nos sabermos fortes porque herdamos a força de uma mulher forte. Redundância? Não. Pura realidade.

Sabemos ser, além de fortes, generosas. E generosidade é força. Encontramos motivos para rir juntas e uma das outras e de nós mesmas. Amamos nossas histórias alegres e nossas histórias tristes, nossas perdas e nossas vitórias, nossas conquistas e nossas derrotas. Estamos sempre unidas, ainda que separadas geograficamente, porque nas nossas almas estamos sempre amparando umas às outras. Somos assim e assim continuaremos existindo porque se nos encontramos neste tempo e neste espaço é por alguma razão muito especial. E nós reconhecemos essa razão. Às vezes podemos não entender bem, mas sempre a reconhecemos nos nossos olhares, quando eles se cruzam. E às vezes, nem olhares há. Às vezes é só sintonia, mesmo. E basta. E assim seguimos.

Tivemos, recentemente, uma prova tangível de força e generosidade em forma de um dos momentos mais amorosos que já nos proporcionamos. A partir de então, ficou ainda mais necessário o registro de nossas memórias para que possamos nos mantermos vivos uns nos outros. E, quem sabe, pequenos textos como este, poeminhas, HQs, canções, fotos, registros diversos,... poderão construir um daqueles lugares remotos para onde nos refugiamos em momentos de nostalgia. Seja para compô-los ou para desfrutá-los.

Por fim, segue aqui uma frase linda que recebi certa vez de quem teve esta ideia, e que eu compartilho aqui porque considero totalmente apropriada:

“Diante da vastidão do tempo e da imensidão do universo, é um imenso prazer para mim dividir um planeta e uma época com você.”
(Carl Sagan)